Telefone celular com capa de bananaOntem o Sergio Amadeu escreveu em seu blog um post com um título tentador: “Celular Sem Operadora: Seria Viável a Gratuidade na Comunicação?”. Trata-se de uma idéia que o próprio Sérgio Amadeu já tinha levantado anteriormente ainda que de forma um pouco diferente. Na matéria que publicou ontem ele descreve uma comunicação que seria feita entre o telefone celular e uma rede sem fio pública, oferecida pelo Estado. O Estado ofereceria acesso gratuito ao cidadão que possui um celular com capacidade de se conectar a internet e as ligações seriam feitas sem custos para outros celular ou computador também ligado a internet.

Hoje em dia os celulares com tecnologia suficiente para realizar tal proeza em wi-fi não sai por menos de R$ 950,00 sem o subsídio da operadora de celular. Em outras palavras, se depender do custo de mercado hoje somente uma faixa bem restrita de cidadãos poderia se beneficiar de um serviço como esse. Mas algum dia no futuro os celulares poderão vir com esse recurso por um preço realmente acessível.

Mas o que me chamou a atenção mesmo na matéria foi a seguinte provocação do Sérgio Amadeu:

Aí vêm a turma do Kptal perguntando: quem paga? é gratuito?

Trabalhador usando telefone celularVou responder como colega: ainda que eliminássemos a moeda das relações sociais o oferecimento de tal rede geraria trabalho humano. E quem deveria trabalhar para que todos usufruam do serviço?

Agora com termos um pouco menos marxistas: para montar uma rede dessas, manter o link e os equipamentos em funcionamento é necessário dinheiro. Se esse dinheiro for pago pelo Estado então ou sobrará menos dinheiro para outros serviços públicos ou o contribuinte pagará mais dinheiro ao Estado. Qualquer explicação diferente é quimera. O fato que o dinheiro do Estado que deve ser utilizado para oferecer transporte, saúde e educação passaria a ser gasto também com comunicação.

Agora eu devolvo a bola: é justo que o Estado e o contribuinte custeie a comunicação do cidadão? Minha opinião é que é injusto, pois o maior beneficiário hoje seriam os mais ricos, e eu acho injusto o Estado beneficiar aos ricos em detrimento dos mais pobres.

6 thoughts on “Celular Sem Operadora”
  1. Acho que infra-estruturas de comunicação não devem mesmo ser mantidas ou contratadas por governos. O ideal é que elas fossem públicas.

    E pelo que ouço por aí, o caminho para construção de infra-estruturas de rede verdadeiramente públicas e autônomas, é a tecnologia de redes mesh.

    De qualquer forma, no meio desse caminho rumo ao ideal, acho que bons investimentos estatais em comunicação podem ser muitas vezes mais efetivos do que o que hoje é gasto com serviços de transporte, saúde ou educação.

    Até porque a universalização duma infra-estrutura estatal de comunicação é muito mais viável do que a universalização de serviços de transporte, saúde ou educação, que hoje são mantidos pelos governos.

    Além do mais, com uma infra-estrutura abrangente de comunicação, as pessoas podem trocar conhecimentos com mais facilidade e tornarem-se cada vez mais autônomas e independentes de estruturas institucionais mantidas pelo Estado.

  2. Muito bem colocado. Esse tal de Sérgio é uma pequena amostra da massa comunista jogando o dinheiro público no ralo. Falta cérebro pra essa gente ou são ladrões salafrários?

  3. (corrigi a formatação, por favor, apague o anterior)

    Não sei se a coisa é tão simples assim. Para começar, no mundo em que vivemos, o acesso à informação tem uma importância que nunca teve. Telefonia e acesso à internet são sim serviços básicos, que podem fazer a diferença na decisão de voto, na participação em um movimento político, no uso de serviços públicos ou na conquista de um emprego.

    Outro ponto importante é que o pessoal da periferia já tem telefone caro. O sujeito gasta 500, 600 reais em dez vezes num telefone, e mais um tanto igual de créditos.

    Ele também não vai precisar de um telefone de 900 reais. Se a cidade estiver coberta por wifi, ele pode usar um Skype phone, um aparelho de US$70,00 a US$120,00. Isso substituiria o telefone fixo em sua casa e o celular.

    Quanto a isso beneficiar os ricos, duvido muito. Os ricos já têm computador com Skype, telefone fixo e celular, e dinheiro para usá-los à vontade. Eles já têm celular com Wi-fi e Skype, e os lugares que eles freqüentam já têm rede wi-fi.

    Quanto a usar dinheiro público para comunicação em detrimento de usá-lo, por exemplo, em tansportes, as duas coisas são importantes no mundo de hoje. Quanto dinheiro é gasto nessa cidade, por exemplo, para beneficiar as pessoas que andam de carro? Quanto dinheiro é gasto em túneis? Teremos até uma imponente ponte no Brooklin. Onde é mais justo usar o dinheiro, num túnel ou numa ponte que vai beneficiar a minoria da população que tem dinheiro para andar de carro, ou num serviço que pode fazer com que o jovem da favela possa, por exemplo, aprender inglês?

  4. Olá Vitor,

    A rede Mesh parece ser uma das mais interessantes entre as redes tolerantes a falhas. Quando surgiu a internet no Brasil em 1997 eu lia muito que a internet seria uma rede ponto a ponto resistente a falhas e com o custo distribuído. E de fato ela é distribuída, mas por algum motivo eu pensei que esse custo distribuído significava que eu iria pagar meus equipamentos e a energia elétrica e só! Mas não funciona assim. Os custos com provedor continuam existindo mesmo que a arquitetura da internet seja aberta. Hoje chegou minha conta de internet e eu acho ela salgada.

    Acho bacana a idéia da rede Mesh, de custos distribuídos e tal, mas eu ainda sou cético. Acho que os provedores continuarão existindo como principal forma de conexão.

    Elcio,

    Você argumenta que os jovens de periferia já têm celular caro… Concordo em parte, pois um celular com wifi não sai por menos de R$ 1.000,00 sem os subsídios das operadoras. Mas acredito que uma vez que exista uma rede pública o preço dos aparelhos com tecnologia wifi ou rede Mesh acabariam ficando no valor que você citou de R$ 600,00. Portanto você me pegou com calças curtas e é por isso que essa resposta demorou uma semana 🙂

    O que me preocupa mesmo é quem pagaria a conta da implantação da rede pública e quem a implementaria. Quando a telefonia brasileira era implementada pelo Estado não existia universalidade de acesso. Foi a privatização que proveu uma universalização ainda que restrita aos consumidores. Quando telecomunicação era um problema de Estado tínhemos ainda menos. Se o Estado não foi hábil em promover essa universalização antes, o que poderia ter de novo para acontecer agora? Porque o mesmo Estado seria capaz de promover a universalização, e ainda por cima sem custos para o usuário?

    Hoje o custo de acesso é pago pelo consumidor. O cidadão pode pagar a uma operadora de celular e ter acesso a internet. Se a rede vier a ser pública ela precisará ser paga pelo governo ou por um financiador. Eu não conheço motivos que levem um financiador a implantar tal rede, então vou supor que o governo irá pagar essa conta.

    Bem, o dinheiro do governo vem de impostos e taxas. Se o governo pagar o custo de tal rede o custo real incidirá sobre o contribuinte. Então precisamos saber de qual tributo podemos tirar esse recurso. Bem, quem poderia implementar uma rede dessas? O município? O Estado? Ou o governo federal?

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